quarta-feira, 7 de abril de 2010

Vaticano diz não ter castigado padre pedófilo por ele estar doente

25/03/2010 - 07h35
Vaticano diz não ter castigado padre pedófilo por ele estar doente
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da Efe, na Cidade do Vaticano
da Folha Online

O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, explicou nesta quinta-feira que o reverendo Lawrence Murphy, acusado de abusar sexualmente de cerca de 200 crianças surdas, não foi castigado por que o caso só foi descoberto depois de 20 anos, quando ele já estava muito doente.

Lombardi disse que o Vaticano reconhece o "terrível sofrimento das vítimas" e assegura que Murphy, um sacerdote da Arquidiocese de Milwaukee, nos Estados Unidos, "violou a lei e, o que é mais importante, a confiança que suas vítimas tinham nele".

O jornal americano "The New York Times" informou nesta quinta-feira em seu site que as maiores autoridades do Vaticano, incluído o então cardeal Joseph Ratzinger, que anos mais tarde se tornaria o papa Bento 16, encobriram o sacerdote americano em um caso de pedofilia.

O jornal teve acesso a documentos que procedem do processo judicial aberta contra o reverendo Lawrence Murphy, que trabalhou durante mais de 20 anos, entre 1950 e 1974, em uma escola para crianças surdas do Estado americano de Wisconsin.

Segundo o "New York Times", Ratzinger, que era governador regional da Congregação para a doutrina da Fé, e outros responsáveis eclesiásticos discutiram a expulsão do padre, mas a prioridade maior foi proteger a igreja do escândalo.

Sem punição

"A Congregação para a Doutrina da Fé não foi informada do assunto até cerca de 20 anos mais tarde. No final dos anos 1990, depois de mais de duas décadas, a Congregação foi questionada sobre como tratar o caso Murphy dentro da igreja", disse Lombardi.

O porta-voz diz ainda que, mesmo quando a Congregação foi alertada, a pergunta "não tinha relação com procedimento civil algum ou com processos judiciais contra o padre Murphy".

"Em tais casos o Código de Direito canônico não prevê penas automáticas, mas recomenda que seja feito um julgamento considerando a maior pena eclesiástica, que é a expulsão do estado clerical", explica.

"Visto que o padre Murphy era idoso, sua saúde era precária, vivia em isolamento e não havia novas acusações nos últimos 20 anos, a Congregação para a Doutrina da Fé tomou em consideração a restrição e pediu que aceitasse a responsabilidade por seus graves atos".

O Vaticano ressalta ainda que Murphy morreu aproximadamente quatro meses depois.

O porta-voz também deixa claro que nem no documento vaticano "Crimen Sollicitationis", escrito em 1962, e que traz instruções aos bispos sobre como enfrentar as acusações de abuso de crianças, nem no Código de Direito é "proibido denunciar os delitos de abusos a menores às autoridades judiciais".

Escândalo

A Igreja Católica da Irlanda foi criticada por ocultar, segundo relatório de uma investigação oficial publicado em novembro passado, os abusos sexuais cometidos por padres da região de Dublin envolvendo centenas de crianças durante várias décadas.

O documento, de mais de 700 páginas, fala sobre a atitude da hierarquia católica no arcebispado de Dublin entre os anos 1975 a 2004. Acusa, principalmente, quatro arcebispos por não terem denunciado à polícia que sabiam dos abusos sexuais, cometidos a partir dos anos 60.

Os casos de pedofilia atingiram ainda a Holanda, onde a Igreja Católica recebeu 1.100 denúncias de pessoas que afirmam ter sofrido abusos sexuais por parte de membros do clero entre os anos 50, 60 e 70.

Na Alemanha, as denúncias de pedofilia chegam a 120 e teriam ocorrido entre as décadas de 1970 e 1980 em escolas jesuítas locais. O caso envolveu até mesmo o sacerdote Georg Ratzinger, irmão do papa, que liderava os rapazes do coro da catedral de Regensburg. O sacerdote negou saber dos casos de abusos e foi inocentado pelo Vaticano.

Na semana passada, na Áustria, a imprensa local noticiou casos de abusos cometidos em dois institutos religiosos nas décadas de 1970 e 1980.

Na Espanha, o Vaticano disse saber de 14 casos de abuso sexual de crianças, que teriam ocorrido de janeiro de 2001 até março de 2010, na Igreja Católica da Espanha.

De acordo com a imprensa espanhola, entre as suspeitas há pelo menos dez sentenças já emitidas por tribunais civis e quatro processos abertos por abusos similares cometidos por religiosos antes de 2001. No total, são 25 sacerdotes e religiosos espanhóis implicados em pedofilia nos últimos 20 anos.

O Vaticano reconheceu ainda os abusos cometidos por dois monsenhores e um padre do município de Arapiraca, a 130 quilômetros de Maceió (AL), depois de terem sido acusados de pedofilia por alunos de um coro e por seus familiares.

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